quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Melhor Forma de Envelhecer e Amadurecer (Slash - 2010)

Estou há uns dois meses querendo escrever algo sobre este álbum que foi lançado no dia 06 de Abril e que é fatalmente um dos melhores que escutei nos últimos anos. Pode parecer exagero, mas garanto que não é.

Slash é o álbum solo recém-lançado do guitarrista de mesmo nome e que é amplamente conhecido no show business, não só pelos amantes de Hard Rock, mas sim por todos que tenham seus ouvidos funcionando. Na verdade, nem precisa ter ouvidos para conhecê-lo. Sua marca registrada, a épica cartola e sua cabeleira que o acompanham desde os primeiros anos do Guns, são até mais conhecidos que alguns de seus solos mais tocados no mundo.
Estou aqui exatamente para falar sobre este trabalho, que já era esperado a mais de dois anos, quando do lançamento do seu livro Biografia no fim de 2007, quando ainda excursionava com o Velvet Revolver (que, teoricamente não acabou) com seus companheiros ex-Gunners, Duff McKagan e Matt Sorum, Scott Weiland (hoje de volta ao Stone Temple Pilots) e Dave Kushner na guitarra-base.

Como principal arma para fisgar todos os gostos musicais, Slash chamou artistas de peso do Metal ao Pop, e que se encontram em evidência na cena “mainstream” atual. Fergie (Black-eyed peas), Ozzy Osbourne, Chris Cornell, Iggy Pop e Kid Rock, são apenas alguns dos nomes presentes no seu álbum. Todos os artistas que participam também tiveram parte nas composições, não só das letras como das harmonias em si.

As canções:

O álbum abre com o riff irado e a virada de bateria de “Ghost”, com o vocal potente de Ian Astbury do The Cult. Imagine esta música como se estivéssemos abrindo a porta de um avião, e nos preparando para saltar. A sensação é a mesma da pressão do ar vindo na sua cara, e você sabe que só vai parar lá para o meio do salto, quando você já abriu o pára-quedas. E você começa a se perguntar: “Será que o vai ser bom assim até o fim?”. E será. Porém, com algumas calmarias que caberiam outras metáforas que não a do vôo.

Em seguida temos “Crucify the Dead” com vocal de ninguém menos que Ozzy Osbourne. Confesso que no início não curti tanto a música por não entendê-la da forma correta. Obviamente, depois de uma introdução como a da faixa de introdução, esperava que o ritmo fosse tão frenético quanto. Mas o grande lance de “Crucify the Dead” é o refrão grandioso e aquela que chamamos de “parte diferente da música”. No final das contas é até meio que viciante por causa da voz de Ozzy, principalmente.

Se não fosse pela terceira faixa “Beautiful Dangerous” com Fergie nos vocais, continuaríamos com o refrão da faixa anterior na cabeça por mais uns cinco minutos. Mas não dá tempo. Na verdade, desta faixa prefiro os versos ao refrão, porém o mesmo é grudento demais pra não ficar que nem chiclete no ouvido. Fergie surpreende pela violência da sua voz, e sua identificação com o rock. Mas, o mais legal nessa canção são as guitarras, com os delays distorcidos e a base que é fantástica justamente pela sua simplicidade. Fora aquela frase logo depois da palavra “danger” no refrão. Nota 10 pro Slash nesta faixa em questão de criatividade.

Em seguida vem “Back From Cali” cantada por Myles Kennedy, ex-Alterbridge. Fatalmente uma das melhores vozes do rock de hoje. Não é à toa que a turnê mundial deste álbum provavelmente será cantada por ele. Mas que fique claro que tal turnê terá também músicas antigas do Guns, Velvet Revolver e Alterbridge. O que nos deixa a pergunta de “quantas horas serão necessárias para se fazer um bom show, e que agrade a todos”. Mas este é outro assunto.

“Promise” com Chris Cornell nos vocais é inquestionável quanto a sua qualidade. Apesar de, há não muito tempo ter lançado um dos piores álbuns que já escutei ("Scream" com produção de Timbaland), ele mostra que foi apenas um lapso de decência ao chegar cantando "Promise".

O Riff da introdução é contínuo e nada hard-rock, o que deixa claro a versatilidade de Slash neste álbum. Chris Cornell, que não precisa provar sua voz pra ninguém (e nunca precisou), mostra que faz jus à fama de bom cantor e compositor.

Neste ponto entramos naquela que pra mim é a melhor do álbum. Uma obra prima, que não custaria nada a se tornar clássico, não fosse a ausência de interesse atual pela boa música. Não à toa é a faixa de trabalho. “By The Sword” cantada por Andrew Stockdale, já possui videoclipe e foi apresentada algumas vezes ao vivo. Destaque para o som limpo do riff durante quase toda a música que, apesar de explodir no refrão, possui um solo calmo e totalmente congruente com o resto do som.

Andrew canta e toca na banda Wolfmother que possui um som bastante sessentista, nos remetendo ao Hard Rock de Robert Plant e companhia.

“Gotten” que é a sétima faixa, é cantada por Adam Levine do Maroon 5. Uma balada bem radiofônica, porém bem original com a cara do próprio M5 e o bom gosto do Slash.

Lemmy Kilmister do Motorhead canta “Dr. Alibi” para agradar os fãs mais ortodoxos do rock. A qualidade desta é justamente ser direta e sem frescuras. Assim como manda a cartilha do Rock n’ Roll. Nesta, Lemmy também toca o baixo paletado, o que fica bem nítido nos graves que se escutam.

Axl talvez se remoa um pouco com “Watch This”, já que simboliza a parceria de Guns e Nirvana. Neste instrumental temos Dave Grohl (ex-Nirvana e atual Foo Fighters) na bateria e Duff no baixo. Sempre achei o Slash um ótimo guitarrista, mas sempre duvidei um pouco da sua capacidade de criar músicas instrumentais. Talvez por estar acostumado com mestres como Joe Satriani, Petrucci, Kiko Loureiro, Steve Vai, dentre tantos outros. Mas “Watch This” surpreende a qualquer um, justamente porque nos prender até o fim. Parece que a música tem sempre algo a mais a dizer, e vai assim até o fim. Fora que, convenhamos, que power-trio FODA.


Em seguida temos Kid Rock com “I Hold On”. Eu não curto muito a pessoa Kid Rock, mas não tem como negar que o cara canta muito. Experimente esta balada-country-hard-rock.

Na 11ª casa (lapsos, lapsos...) temos ninguém menos que M. Shadows do Avenged Sevenfold, que atualmente é a maior banda de metalcore (se é que ainda pode-se dizer isso deles), cujo baterista veio a falecer no fim de 2009 por causas não muito divulgadas. “Nothing to Say” é o mais perto que vi do Slash executando um heavy-metal até hoje. Felizmente, não deixou nada a desejar. Destaque para as vozes sobrepostas de M. Shadows, e as bases e solos de guitarra de Slash, que visivelmente foi influenciado pelo Avenged para fazer esta composição.


Uma observação importante é que existe uma faixa que foi gravada porém não está no álbum. Tal faixa possui os mesmo arranjos de “Nothing to Say” porém com o nome “Chains and Shackles” e algum tom abaixo. Além disso é cantada por Nick Oliveri, ex-Queen of the Stone Age. Achei está faixa muito louca. Apesar de ter gostadi, é difícil ser tragada por qualquer um.

Fechando o álbum, temos:

“Starlight” com Myles Kennedy de novo

“Saint is a Sinner Too” com Rocco De Lucca (a segunda melhor música do álbum – ou terceira?)

“We’re All Gonna Die” com Iggy Pop (na mesma linha ortodoxa rock ‘n roll e direta de “Mr. Alibi”)

“Paradise City” versão com participação de Fergie e Cypress Hill – Excelente!!!

“Baby Can’t Drive” com Alice Cooper e Nicole Scherzinger (conhecida pela patys com gosto musical duvidoso por cantar no Pussycat Dolls).

De modo geral, o álbum é uma pérola do tipo que não se faz mais hoje em dia. Slash se reinventou mais uma vez ao mostrar que pode fazer rock ‘n roll da mais alta qualidade com artistas de diversos estilos musicais. Se pudesse, falaria com mais calma e detalhes sobre cada faixa, além das curiosidades que envolveram a gravação de Slash (o álbum, não o guitarrista). Porém seria informação demais, totalmente Googável por você, leitor amante da boa música.

Escute sem moderação.

Fica aqui o clipe de “By The Sword” recém-lançado.